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Publicado em: 25/04/2017 às 12:10

Startup vencedora de editais da Fapesb ganha o mercado

Por: Ascom/Fapesb

Receber o “sim” de investidores de peso para uma startup brasileira focada em advocacia era um tanto improvável, mas o empreendedor baiano Rafael Costa, 34, fundador do Jusbrasil, decidiu entrar em contato com o fundo do Vale do Silício. E não era qualquer um, mas o Founders Fund, que tem em seu porfolio Airbnb e Spotify. E o improvável se provou possível: o “sim” veio e marcou a estreia do fundo na América Latina – em dose dupla, pois os americanos fizeram um aporte em duas startups brasileiras: Jusbrasil e Nubank.
Sobre a Nubank e fintechs, muito já se falou. Por sua vez, o business do Jusbrasil ainda é pouco badalado: trata de conectar advogados de todo o país a pessoas que precisem desses serviços. Um marketplace, portanto. O valor aportado pelo Founders Fund não pode ser revelado, mas o dinheiro vem sendo usado para manter a startup funcionando e implementar melhorias na plataforma.
A ferramenta já havia sido implementada em 2014, depois que a Monashees fez
um primeiro aporte. Antes disso, a grande inovação do Jusbrasil tinha sido tornar acessíveis informações jurídicas que não eram indexadas pelo Google. O que isso significa? Rafael conta que os sites de tribunais do Brasil e parte dos Diários Oficiais não apareciam nas buscas do Google por ficarem “escondidos” atrás de campos de busca dos sites onde estavam hospedados. É um tipo de indexação que não permitia aos robôs do Google ler a informação.
INOVAÇÃO A FAVOR DA TRANSPARÊNCIA
O que os engenheiros de software do Jusbrasil fizeram foi criar algoritmos que interagissem com esses campos de busca para indexar essa camada da web que o Google não indexava, chamada de “hidden web”. Assim, informações dos sites dos tribunais, como jurisprudências, bem como os Diários Oficiais passaram a ser encontrados facilmente no Jusbrasil por qualquer um que fizesse a busca – mesmo no Google. Nesse caso, os links que apareciam na busca do Google direcionavam para o site do Jusbrasil.
Rafael Costa e Daniel Murta, advogado e engenheiro, sócios-fundadores do Jusbrasil.
Rafael Costa e Daniel Murta, advogado e engenheiro, sócios-fundadores do Jusbrasil.
Advogado de formação, Rafael e seus sócios Daniel Murta, 38, e Rodrigo Barreto, 34, (estes, formados em engenharia) precisaram recrutar profissionais de tecnologia para tirar a ideia do papel. Naturais da Bahia, os três alugaram um apartamento de dois quartos próximo à Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, que é uma referência na área, e começaram a recrutar quem estava ali cursando mestrado ou doutorado em computação.
Para dar início à empresa, além do investimento próprio, os empreendedores conseguiram vencer dois editais da Fapesb (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia) e levantaram 400 mil reais. Com o dinheiro montaram a equipe. Isso tudo em 2007. No pequeno apartamento moravam e trabalhavam 13 pessoas, incluindo os sócios do que viria a ser o Jusbrasil.
PÚBLICO MAIS AMPLO E UMA NOVA COMUNIDADE
Em 2008, nasceu oficialmente o Jusbrasil como um buscador vertical para a área jurídica. Nessa época, os sócios não tiravam nenhum dinheiro da startup. “Foi uma fonte boa de sofrimento”, lembra Rafael. O alívio é que o negócio pegou tração logo. No meio do ano, o site tinha cerca de 500 acessos por dia e em dois anos já eram 5 milhões de usuários únicos por mês.
Nessa época, os sócios perceberam que o público do Jusbrasil, ao contrário do que eles haviam pensado inicialmente, não era formado apenas por profissionais do meio jurídico. “Vimos que os usuários do site eram pessoas comuns querendo entender o ambiente jurídico”, conta o fundador. A partir daí a plataforma começou a oferecer também informação jurídica de forma clara e acessível.
Em 2010, então, começava a ser desenvolvida a comunidade do Jusbrasil, definitivamente implementada em 2012. Nesta área do site, inspirada no Medium, os próprios usuários escrevem artigos sobre o meio jurídico e compartilham com a rede. A adesão foi grande e, hoje, o Jusbrasil registra 300 novas publicações todos os dias. Há desde posts explicando o que fazer caso a árvore do vizinho invada o terreno da sua casa, até dúvidas sobre vínculo empregatício e pensão no caso de divórcio, entre tantos outros temas. “Incentivamos a comunidade a escrever de forma simples, deixando de lado o ‘juridiquês’”, diz Rafael. Para tanto, o Jusbrasil publicou, inclusive, alguns vídeos com dicas de como escrever na internet.
CINCO ANOS DE BOOTSTRAPPING
Em 2013, quando a Monashees entrou em contato querendo fazer um investimento – sim, isso pode acontecer —, o Jusbrasil já tinha 8 milhões de usuários únicos por mês. “Só aí é que fomos pensar em como monetizar o negócio”, conta Rafael. Foi também quando a empresa quitou dívidas com o Estado e colocou em dia o pagamento de tributos devidos. “Por um tempo não conseguíamos pagar os impostos e tivemos que fazer o pagamento de forma retroativa.”
Até então, a única fonte de receita da startup eram os anúncios publicitários no site, mas foram três anos até conseguir uma inserção relevante. Não havia uma fonte de receita consistente, e Rafael conta que, nesse período, dependia financeiramente dos pais e teve que aprender a lidar com a situação:
“Quando a gente empreende, o psicológico é o mais difícil, porque você fica pensando que é um fracassado por não gerar o próprio sustento e depender de pais e amigos para ter onde morar”
Durante a conversa com o Draft, realizada no escritório da startup em Salvador, na Bahia, Rafael lembrou do nível de ansiedade que vivia na época. “A gente não tinha nem pista de que modelo de negócio seguir e tinha dia que não sabia como iria pagar a folha. Tivemos que pedir dinheiro emprestado mais de uma vez, no banco, com amigos e a família.”
Após o fôlego financeiro trazido pelo aporte da Monashees, a equipe do Jusbrasil identificou que entre os comentários dos usuários nos posts publicados pela comunidade dentro do site havia sempre pedidos de indicação de advogados com experiência em determinado assunto. Nasceu, então, a ideia de criar o marketplace que conectasse advogados e pessoas que buscam serviços desse tipo de profissional. Eureka!
No escritório, em Salvador, os fundadores da startup: Osvaldo Matos Jr., Gustavo Maia, Luiz Paulo Pinho, Rodrigo Barreto, Daniel Murta e Rafael Costa.
No escritório, em Salvador, os fundadores da startup: Osvaldo Matos Jr., Gustavo Maia, Luiz Paulo Pinho, Rodrigo Barreto, Daniel Murta e Rafael Costa.
Atualmente, a receita do Jusbrasil concentra-se nesse modelo de negócio. O usuário que precisa de um advogado descreve sua necessidade no site e ela é enviada para a base de profissionais cadastrados no Jusbrasil. Para responder com um orçamento, o advogado precisa ser assinante da plataforma ao custo de 49 reais por mês.
Hoje, o Jusbrasil registra 1 milhão de acessos diariamente, tem mais de 1 bilhão de documentos indexados e 20 milhões de usuários únicos por mês. Segundo Rafael, 75% dos advogados do Brasil têm perfil no site, que aponta 538 mil cadastrados (uma parcela pequena destes é assinante da plataforma). De acordo com o empreendedor, a plataforma gera 1 bilhão em negócios por ano para os profissionais cadastrados e viabiliza cerca de 500 mil conexões anuais entre advogados e clientes. Apesar dos números, Costa não se considera um empreendedor de sucesso:
“Estamos em uma jornada querendo fazer algo de sucesso”
Talvez em virtude desse modo de pensar, Costa não se preocupa em divulgar os feitos do Jusbrasil e, diferentemente de muitas startups, não tem uma assessoria de imprensa. “Penso que é melhor investir o dinheiro em algo que traga mais benefícios aos nossos usuários”, diz, antes de complementar: “E me surpreende que, se você não tem uma assessoria de imprensa, a mídia não te descobre. Parece que só noticiam o que chega até eles”.
SILÊNCIO, EQUIPE TRABALHANDO
Com 70 funcionários na equipe, o escritório do Jusbrasil ocupa dois andares em um prédio comercial na capital baiana. Amplo, o espaço principal da sede tem uma política de silêncio: no local onde ficam as mesas de trabalho, ninguém fala. O objetivo? Aumentar a produtividade. Quem precisa trabalhar em equipe e, portanto, conversar, deve ocupar uma das salas envidraçadas espalhadas pelo ambiente. “As interrupções e o barulho atrapalham o fluxo de trabalho”, diz Rafael.
No Jusbrasil, o horário de trabalho é flexível, as cobranças são feitas por entregas e as “conversinhas” durante o expediente se concentram no Slack – assim, quem recebe a mensagem só lê quando quer ser interrompido.
A média de idade dos funcionários ronda os 20 anos e, à exceção dos sócios, que já passaram dos 30, há apenas um ou dois colaboradores mais velhos. Para a meninada, o happy hour que acontece toda sexta-feira no escritório é uma verdadeira festa. Há bebida e comida de graça, e os instrumentos musicais na sala de descontração são usados pelos sócios e algumas pessoas da equipe para dar o ritmo da diversão. Tem dias que a comemoração entra madrugada a dentro, contam os colaboradores. É justo.
Fonte: https://goo.gl/svpbBI

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