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Publicado em: 06/12/2012 às 23:35

Abertura do 4º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciências

Por: Ascom/Fapesb

A cerimônia de abertura do 4º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência 2013 aconteceu na noite de 5 de dezembro, no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), em Salvador. A mesa solene foi composta pelo Acadêmico Jailson Bittencourt, coordenador do Encontro em Salvador; o secretário-executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luiz Antonio Elias; a reitora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Dora Leal; a Acadêmica Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC); Roberto Santos, presidente da Academia de Ciências da Bahia; e Roberto Paulo Lopes, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).

Bittencourt explicou o processo de escolha do Rio de Janeiro como sede do próximo Fórum Mundial de Ciência, criado em 2000 pela Academia de Ciências da Hungria e realizado de dois em dois anos naquele país desde então. Em 2010, a Academia Brasileira de Ciências e o governo brasileiro propuseram uma alternância entre a Hungria e outros países para a realização do Fórum, e ofereceram o Rio de janeiro para sediar a primeira edição fora da Hungria, o que foi aceito e ocorrerá em 2013. O Acadêmico citou os diferentes temas dos Encontros Preparatórios anteriores – realizados em São Paulo, Belo Horizonte e Manaus -, destacando o foco escolhido para o Encontro de Salvador: energia com sustentabilidade.

Dora Leal cumprimentou a todos e convidou a mesa para visitar a universidade, reformada recentemente em função do Reuni. Ela disse que a cidade de Salvador está muito honrada por receber esse 4º Encontro Preparatório para o Fórum Mundial de Ciência 2013 e que a UFBA vê grande importância na formação de recursos humanos voltada para a área de energia sustentável. “Espero que esse Encontro aporte elementos significativos para o Fórum Mundial em 2013″, concluiu.

Roberto Paulo Lopes destacou que hoje é possível um país crescer de forma sustentável, em função da inovação. “Esta é fruto do desenvolvimento científico e a tarefa da Fapesb é incentivar a incorporação da inovação na estrutura produtiva. A inovação é que possibilita o acesso universal a produtos e a um padrão de vida, que antes seria impensável, para um maior número de pessoas”, observou.

Foram iniciadas então as palestras sobre o tema “Energia e sustentabilidade: o papel das políticas de CT&I”, abordado por diferentes pontos de vista pela Acadêmica e presidente da SBPC Helena Nader, o Acadêmico da Embrapa-DF Elíbio Rech e o secretário-executivo do MCTI Luiz Antonio Elias.

Institucionalização, pós-graduação e financiamento x educação básica e economia do conhecimento

A primeira palestrante foi Helena Nader. Falando sobre os acertos e erros nas políticas de CT&I, ela destacou os marcos na institucionalização da ciência brasileira e citou os institutos de pesquisa e universidades criados no país, com suas respectivas datas de criação e destacou como grande marco da educação superior brasileira a reforma universitária de 1968, um dos poucos acertos que ela reconhece do período militar.

Outro acerto ressaltado por Nader diz respeito ao sistema de pós-graduação com avaliação. Ela apresentou dados mostrando que o número de cursos triplicou de 1998 a 2011, assim como cresceu exponencialmente o número de mestres e doutores e o número de trabalhos publicados em periódicos no ISI. Mostrou ainda a que o que está sendo publicado pelo Brasil está sendo lido e citado, especialmente na área médica, nas ciências agrárias e ciências de plantas e animais, na farmacologia e toxicologia.

O sistema de financiamento para ciência, tecnologia e inovação envolvendo articulação entre o governo federal e os níveis de governo estadual e municipal foi destacado pela presidente da SBPC como outro ponto positivo. “As parcerias entre agências federais e estaduais, como os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, envolvendo as Secretarias estaduais e municipais de ciência e tecnologia e as fundações de amparo à pesquisa dos estados, assim como universidades e unidades de pesquisa estaduais e algumas universidades privadas, e as parcerias entre Ministérios acrescentaram muito ao sistema nacional de C&T”, disse Nader.

Ela passou, então, aos desafios, focando especialmente o baixo nível do ensino básico e o baixo desempenho da economia baseada no conhecimento. Nader apresentou um gráfico comparativo do desempenho do Brasil e da China no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) em 2010, mostrando “como estamos péssimos” em matemática, leitura e ciências. Outro gráfico evidenciou o declínio do desempenho dos estudantes no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na área de ciências da natureza. “Esse é o ‘produto interno bruto’ que vai entrar nas universidades, serão os engenheiros, cientistas, médicos da próxima geração”, alertou Nader. Ela citou Anísio Teixeira, que dizia que “só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias: essa máquina é a escola pública”.

Com relação ao desempenho do país na economia baseada no conhecimento, Nader apresentou números ainda lamentáveis. Em termos mundiais, o Brasil está na 47ª posição no ranking de inovação. Apenas 1,1% do PIB são investidos em CT&I, cabendo 0,6% ao governo e 0,5% à indústria. “E sobre esse quadro ainda vêm sendo feitos cortes e contingenciamentos nas verbas e orçamentos destinados a CT&I”, comentou a Acadêmica. Por fim, ela ressaltou o fato de que embora o país ocupe a 6ª ou 7ª posição na economia mundial, mas é o 4º país com maior desigualdade na América Latina. “Mudar essa situação tem que ser a prioridade, toda a educação, ciência, tecnologia e inovação têm que ter em vista a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida da população brasileira.”

Iniquidade, insustentabilidade e a quebra de paradigmas: a biologia sintética

Elibio Rech destacou como os dois principais aspectos a serem trabalhados no mundo para garantir um futuro mais justo e com melhor qualidade de vida para a população mundial: a iniquidade e a insustentabilidade. “Temos que quebrar determinados paradigmas. Como intensificar a produção sustentável de alimento e de bioenergia até 2050, reduzindo o impacto no meio ambiente? Como combater a iniquidade social?”, questionou.

O Brasil cresce mundialmente como grande produtor de alimentos. Do ponto de vista de Rech, essas commodities ainda vão gerar riqueza para o país nos próximos 40 anos. Muita tecnologia tem sido investida nesse setor. “Hoje usamos a metade do solo que usávamos em 1990 para produzir três vezes mais sementes de soja. Isso é agregação de valor. Os ciclos de plantação estão sendo reduzidos, o número de plantas por hectare é menor, a produtividade triplicou”, relatou Rech.

E qual é a estrutura que gera essa riqueza para o país? São três milhões de fazendas, pertencentes a agricultores de vários níveis. Rech apresentou dados mostrando que as fazendas da classe A geram 78.8% dos produtos; as da classe C são responsáveis por 13,6% da produção nacional e as das classes D e E, por 7,6%. “Os agricultores da classe C ganham anualmente até 25 mil dólares. Se investirmos nos produtores em situação de extrema pobreza podemos melhorar a qualidade de vida dessa população e ao menos duplicar nossa produtividade”, ressaltou o Acadêmico.

Mas Rech deixou claro que é preciso também trabalhar a conscientização da classe produtora de que o que garante esse sucesso agrícola é a conservação da biodiversidade. “Ela é que sustenta o que produzimos ao longo dos anos. Como usar essa biodiversidade para desenvolver produtos de alto valor agregado? Precisamos de políticas públicas para atingir essas áreas mais vulneráveis”, alertou.

E ele tem resposta para essa questão: Rech aposta na tecnologia do DNA recombinante para o desenvolvimento desses produtos. “Temos a possibilidade de introduzir características precisas nos genomas de plantas e animais de forma a controlar sua produção de acordo com as necessidades do país”, informou.

O Acadêmico deu alguns exemplos. Relatou que a Embrapa desenvolveu um cultivar de soja resistente a herbicidas, numa parceria público-privada com a Basf, que gerou uma semente geneticamente modificada pelo Brasil, produzida com tecnologia brasileira. “Esse produto vai possibilitar uma redução significativa na emissão de CO2″, explicou rech. O pesquisador referiu-se também ao uso da soja como suporte de pesquisa. Em vez de se fazer a expressão de proteínas em modelos animais, se pode fazer em modelos vegetais, o que traz uma grande redução no custo de produção. “Temos soja servindo como base para geração de substâncias que estimulam o a produção de hormônio do crescimento humano, para produção de inibidores da replicação do vírus do HIV, para produção de fator de coagulação. Usar plantas para isso é muito mais econômico”, esclareceu o cientista.

Elíbio Rech falou então da técnica de domesticação sintética de características de organismos da biodiversidade para gerar produtos que possam chegar até o mercado. Ele exemplificou com a manipulação genética da soja. Analisando outras plantas que geram óleo: jatropha, mamona e outras. “Manipulamos a rota metabólica da soja para aumentar a produção de acido linoleico e reduzir a produção do óleo palmítico, o que gera sementes cujas plantas poluem menos e congelam menos.”

Outro projeto na área da biologia sintética que Rech apresentou é o desenvolvimento de fibras proteicas semelhantes as fibras da teia de aranha. “A da teia de aranha tem tanta resistência quanto, mas muito maior flexibilidade do que o nylon e do que o aço, por exemplo”, apontou o cientista, relatando que a Embrapa produziu uma proteína totalmente sintética similar a da teia de aranha, em sílica, através da controle da quantidade e qualidade de aminoácidos. “É um novo material inteiramente biodegradável, que dispensa o uso das aranhas para produzi-lo.”

Na visão do palestrante, a agricultura do futuro tem que estar relacionada com segurança alimentar, sustentabilidade e investimento em educação. “Crianças têm que estar na escola e não no campo. Temos modelos eficientes para quebrar esse paradigma. Colocar a educação em primeiro lugar é o que vai produzir ciência e tecnologia de qualidade. Só assim se pode garantir um futuro sustentável para o planeta”, concluiu Elíbio Rech.

A hora é agora

Luiz Antonio Elias aproveitou o gancho deixado por Elíbio Rech e afirmou que o momento que estamos vivendo é de mudança de paradigma desta agenda. “Temos que mudar agora para que não haja um grande refluxo”, alertou o secretário-executivo do MCTI.

Nos últimos anos, de acordo com o secretário-executivo do MCTI, houve uma mudança no padrão de desenvolvimento, que está fortalecido hoje. Houve redução da pobreza, melhoria na distribuição de renda e 40% dos trabalhadores foram incorporados ao mercado formal. O cenário é positivo para a política econômica brasileira, que tem reservas internacionais robustas. O país tem atraído investimentos externos de forma crescente. Agora, é fundamental atrelar pesquisa e desenvolvimento para aumentar a capacidade de conhecimento local. “A ciência e tecnologia têm que caminhar junto com a política industrial. O conhecimento é que vai fazer darmos o pulo necessário para mudarmos de patamar no cenário internacional”, apontou Elias.

A crise econômica global teve forte impacto negativo na inovação na maioria dos países. Os gastos globais em pesquisa e desenvolvimento (P&D ) decresceram nos EUA e cresceram na Europa e na Ásia, onde P&D têm sido importantes componentes dos pacotes de recuperação. De modo geral, no entanto, os dispêndios globais em P&D na última década têm crescido mais rapidamente do que o PIB global, uma indicação de que estão ocorrendo amplos esforços para tornar as economias mais intensivas em conhecimento e tecnologia.
Ocorreu uma mudança geopolítica forte, com os países asiáticos se aproximando dos países desenvolvidos. Em termos das perspectivas para 2020, 71% das empresas líderes mundiais mantêm a inovação como prioridade estratégica e 61% pretendem aumentar dispêndios com inovação, segundo dados do BCG 2010 Senior Executive Innovation Survey .”A inovação é uma arma para manter ou expandir mercados em um ambiente de acirrada concorrência entre empresas e países”, esclareceu Elias.

No Brasil, o dispêndio governamental está no mesmo patamar de alguns países desenvolvidos. O que falta é a participação intensiva de mais empresas na área de P&D. Para Elias, o país precisa superar as restrições históricas características das economias latino-americanas, como a baixa diversidade produtiva, a especialização em agricultura e mineração, a forte heterogeneidade tecnológica – com coexistência de setores com alta produtividade e de setores com abundante ocupação de mão de obra em níveis próximos aos de subsistência -, institucionalidade inadequada e falta de capacidade empresarial. “Essas características repercutem negativamente na industrialização e no crescimento”, realçou Elias.

Para aproveitar as oportunidades que o contexto internacional está criando, é fundamental injetar maior valor agregado e conhecimento nas exportações, apostando na diversificação produtiva e na reavaliação de estratégias de alianças globais e regionais. “Precisamos de uma nova equação que envolva o Estado, o mercado e a sociedade.” Para Elias, o Brasil precisa de continuidade na democracia, na inflação baixa e no respeito aos equilíbrios macroeconômicos, assim como na redução da pobreza e orientação dos gastos públicos para as políticas sociais. Por outro lado, é preciso promover rupturas. Ele destaca a necessidade de uma mudança estrutural para o crescimento, com o aumento da produtividade e geração de empregos de qualidade, articulando as políticas industriais, macroeconômicas, sociais e ambientais.

Luiz Antonio Elias destacou a importância do Fórum Mundial de Ciência acontecer no Brasil, “pois será uma grande oportunidade de mostrarmos ao mundo toda a excelência que alcançamos em diversas áreas, em nível internacional. Precisamos fortalecer o foco do MCTI agora, que é estreitar relações de parceria público-privada e academia-empresa para termos o avanço que precisamos alcançar. O resultado deve ser extremamente positivo para a sociedade”, sublinhou.

Fonte: Elisa Oswaldo Cruz – Ascom/Academia Brasileira de Ciências

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