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Publicado em: 07/05/2012 às 17:39

Estudante premiado pela FAPESB no Concurso Ideias Inovadoras representa Bahia em evento nos EUA

Por: Ascom/Fapesb

E se o seu irmão, aos 14 anos, sofresse um Acidente Vascular Cerebral (AVC)? E se ele perdesse parte dos movimentos do lado esquerdo do corpo? E se as sequelas o impedissem de erguer a parte da frente dos pés, a ponto de ter que arrastá-lo para caminhar? Poucos fariam como o estudante Daniel Veiga, 22 anos. Para ajudar o irmão, ele passou meses em um laboratório de robótica.

Aluno de Engenharia Mecatrônica da Universidade Salvador (Unifacs), Daniel desenvolveu uma palmilha inteligente, batizada de Motus, capaz de levantar a ponta do pé de uma pessoa com deficiência física, ainda que o cérebro afetado não consiga emitir tal comando.

Com outros dois colegas – os estudantes Bruno Cavalcanti, 26 anos, e Bruno Rabelo, 22 – Daniel criou um aparelho capaz de fazer movimentar o músculo responsável pela chamada dorsiflexão. A palmilha rendeu aos três o Prêmio Ideias Inovadoras da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), que pagou R$ 8 mil, além da escolha de Daniel para representar a Bahia em evento promovido pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton.

Funcionamento

É comum pacientes que foram vítimas de AVC ou lesões medulares sofrerem com a paralisação de movimentos dos membros inferiores ou superiores. Muitos perdem a dorsiflexão, movimento essencial para caminhar e correr. Daniel e os dois Brunos desenvolveram o Motus a partir do conceito da eletroestimulação muscular. “Pegamos a tecnologia e demos uma nova finalidade”, diz Daniel.

No caso do Motus, uma central de processamento de dados é ligada ao músculo através de eletrodos. O sistema é acionado por uma conexão sem fios via rádio a partir da palmilha, onde está instalado um módulo de sensores que detecta as características do passo a ser dado após a retirada do calcanhar do chão. “A palmilha detecta a aceleração, inclinação, velocidade e deslocamento.

É uma espécie de leitura da vontade do paciente, se ele vai correr ou subir uma escada”, explica Daniel.

Diferente de uma prótese, que substitui um membro ou um órgão, o Motus é uma órtese, ou seja, ela complementa o membro. A palmilha foi desenvolvida em parceria com professores de fisioterapia da universidade. “Os dados registrados podem ser convertidos para a linguagem de fisioterapeutas. Até as visitas dos pacientes às clínicas podem diminuir”, diz Bruno Rabelo.

Soma de benefícios
– 3 milhões de pessoas são afetadas por hemiparisia no Brasil e podem ser beneficiadas com o Motus, desenvolvido pelo trio.
– 4,5 mil dólares é quanto custa produto semelhante ao Motus nos Estados Unidos.
– 2,5 mil reais é o preço que os alunos estimam para a palmilha desenvolvida por eles, depois que o produto chegue ao mercado.
– 17 mil reais é o custo hoje de uma impressora de Braille em larga escala
– 1,5 mil reais é o preço que Daniel e os dois Brunos calculam para a impressora pessoal de Braille desenvolvida por eles.

Preço

Não há nada parecido com o Motus no Brasil. Apenas nos EUA, dizem os estudantes, há produto semelhante, que não sai por menos de US$ 4,5 mil. O objetivo é que, após algumas adaptações e um longo caminho até a industrialização, o Motus custe R$ 2,5 mil. “Se for subsidiado pelo governo, com uma parceria com o SUS, o preço cai ainda mais. No Brasil, em 2000, eram quase 3 milhões de pessoas com a hemiparisia (paralisia do membro superior ou inferior de um dos lados do corpo)”.

Além da palmilha, os três já inovaram também ao produzir uma impressora de braile (veja na página ao lado) e, buscando a profissionalização, já criaram uma empresa, a Vitae Soluções em Acessibilidade, que recebe auxílio financeiro da Unifacs. Portanto, o Motus é uma esperança para o irmão de Daniel e muitas outras pessoas. “Não é algo para resolver o problema da família de Daniel, mas da população. Cumprimos nosso papel de universidade”, diz o coordenador do curso de Engenharia Mecatrônica, Rafael Araújo.

Trio desenvolveu impressora pessoal de braile

A palmilha inteligente para deficientes físicos não é o único projeto inovador dos três estudantes. Em 2010, eles criaram uma impressora que imprime em Braille. Até aí, não há novidade, até porque elas já existem no mercado. A questão está nos custos. As impressoras atuais imprimem em grande escala. “A última vez que pesquisamos o valor, ela custava R$ 17 mil, com manutenção apenas em Santa Catarina”, observou Bruno Cavalcanti. Já a impressora desenvolvida pelos três jovens na Unifacs seria pessoal. “Se hoje eu quiser imprimir em Braille tenho que ir no Instituto de Cegos. Queremos que as pessoas com deficiência tenham isso em casa. As escolas também poderiam contar com essa tecnologia”, explica Bruno.

E foi a partir de uma impressora comum que eles refizeram todo o sistema. Primeiro trocaram a cabeça de impressão jato de tinta por uma capaz de abrir orifícios no papel. Aí adaptaram uma fita de borracha abaixo do papel que sofre impressão, para que ela ocorra na medida certa. Depois foi só desenvolver um software. Agora resta buscar recursos para colocar a invenção no mercado. No final das contas, eles calculam que o produto final vai sair por R$ 1,5 mil.

Encontro com Clinton

O trabalho realizado no laboratório de robótica fez a universidade chegar nos Estados Unidos. Após desenvolver a palmilha, Daniel Veiga foi o escolhido para representar a Bahia no Clinton Global Initiative University, evento promovido anualmente pelo ex-presidente Bill Clinton para premiar iniciativas inovadoras em universidades do mundo.

Daniel foi um dos cem estudantes de 96 países e o único brasileiro no evento. “O pessoal me perguntava: ‘Você é brasileiro, mas estuda nos EUA, né?’. Eu respondia: ‘Não. Sou brasileiro e estudo no Brasil mesmo”, conta Daniel. Com o Motus, os estudantes ainda ganharam o Prêmio Ideias Inovadoras da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), realizado em dezembro do ano passado.

Daniel Veiga, Bruno Rabelo e Bruno Cavalcanti exibem com orgulho o cheque de R$ 8 mil, recurso que deve ser integralmente investido no projeto. “Esse dinheiro é apenas uma parte do que precisamos para levar nossos projetos para frente”, Bruno Rabelo.

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