Fapesb participa de debate sobre incentivo à CTI nas escolas públicas
Por: Ascom/Fapesb

Na última quarta-feira, 14/10, o Diretor-Presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), Eduardo Almeida, participou da roda de conversas cujo tema foi “Ciência e Tecnologia nos Currículos Escolares: Desafios e Possibilidades”. O evento aconteceu no Centro de Cultura da Câmara de Vereadores, e foi promovida pelo vereador Silvio Humberto. Também participaram do debate Nelson Pretto, professor titular da faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia (UFBA); Sheila Pereira, mestre em estatística pela UNICAMP; Karina Menezes, Doutoranda e Mestre em Educação pela faculdade de Educação da UFBA; José Jande de Oliveira, Coordenador Geral do Sindicato dos Professores da Bahia (SIMPRO) e representantes de outros sindicatos vinculados aos profissionais de educação.
Segundo o vereador, a roda de conversas foi inspirada no projeto OGUNTEC, desenvolvido pelo Instituto Cultural Steve Biko, cujo objetivo é estimular o ingresso de jovens negros de escolas públicas na área de Ciência e Tecnologia (C&T). Silvio espera que o debate passe a fazer parte da agenda de educação em Salvador: “Ciência e Tecnologia é um desafio e eu quero que, com essa roda de conversa, a gente possa ganhar a rede pública, os professores e as professoras, as coordenadoras pedagógicas, os gestores, e que esse dia de fato entre no calendário”. Além disso, o vereador pretende estimular os jovens das escolas públicas disseminando a ideia de que a ciência não está ao alcance apenas dos mais ricos: “Nós entendemos que falar de desenvolvimento é, acima de tudo, acreditar e investir no potencial das pessoas. E trazer isso com uma certa ousadia para os currículos da rede pública municipal é, de fato, um princípio, uma crença de que nós não podemos achar que os cientistas saem totalmente das elites”.
Para o professor Nelson Pretto, o ponto fundamental é desmistificar a ideia de que ser cientista é para privilegiados. “Essa não é uma luta pequena, eu digo isso por experiência própria” afirma o pesquisador, cuja tese de dissertação do mestrado, de 1985, foi sobre a concepção de ciência nos livros didáticos. “Nos livros, na mídia, aparecia a ideia de que ser cientista é algo para branco rico e bem aquinhoados de informação cultural.” Nelson falou sobre a contribuição da Fapesb neste processo: “Essa desmistificação passa por políticas públicas. Então quando a Fapesb financia nos editais de popularização da ciência, projetos de escolas públicas, para receberem dinheiro, para fazerem eventos e atividades de pesquisa científica, ela está contribuindo de forma fundamental para quebrar essa lógica”.
Vencedora do XXIII Prêmio Jovem Cientista em 2008 com o projeto OGUNTEC, Sheila falou sobre a experiência com os alunos da Instituição Steve Biko: “A Ciência e Tecnologia para mim vem do momento que eu entrei na instituição pré-vestibular e depois de alguns anos no projeto OGUNTEC. E desde aquele momento, a instituição vem desmistificando a ideia de que ser cientista é para poucos e é isso que fazemos com nossos alunos”. Sheila diz que é importante disseminar esta ideia, principalmente na comunidade escolar, para que as crianças se sintam inseridas neste contexto: “Eu também pensava assim, que a ciência é algo para poucos e quando a gente fala de tecnologia, dificilmente uma estudante como eu, uma jovem negra, de periferia, pensaria em estar desenvolvendo algo”.
Karina falou sobre suas impressões da ciência na escola pública, baseada na escola municipal em que seu filho estuda. “Tanto o docente quanto o estudante e o gestor, requerem uma escola em que a cultura, a arte, a ciência e a tecnologia estejam presentes no cotidiano escolar, desde o inicio da educação básica”. Ela defendeu o ensino da ciência e da tecnologia de forma lúdica, para conter a evasão escolar: “Temos em Salvador uma taxa de evasão que é significativa. São cinco mil estudantes por ano largando a escola. O aluno vai perdendo o corpo e só vai sendo focado na mente. Como a gente vai fazer ciência se a gente permite que o nosso processo de escolarização finde a curiosidade das crianças logo no início?”.
Para José Jande, os conhecimentos teórico e prático têm que estar lado a lado. “Essa construção deve ser contextualizada de modo que o aluno perceba tanto a importância dos aspectos teóricos quanto práticos se completando, usando sempre que possível o espaço onde o aluno está inserido como laboratório, onde o mesmo possa fazer a checagem da validade dos pressupostos teóricos. Não é possível pensarmos na formação do cidadão à margem do saber científico.”
O diretor da Fapesb, Eduardo, citou três pesquisas recentes, que mostram o atraso brasileiro no que se refere aos conhecimentos científicos de sua população. Em uma delas, feita em 2015, em São Paulo, o cientista foi a terceira profissão mais admirada, com 61% dos votos, atrás do professor (77%) e do médico (70%). Outras duas pesquisas similares foram realizadas em Salvador. Uma delas, de 2001, feita com pessoas maiores de 18 anos, mostra que apenas 9% dos entrevistados costumam ler notícias em jornais ou revistas sobre C&T, apenas 37% se consideram informados nessa área, 35% demonstraram insatisfação total com a educação na escola na área de C&T nos ensinos básico e fundamental, e apenas 7% consideram a área de C&T prioritária. A outra, feita entre 2010 e 2011 pela UFBA, com alunos dos ensinos básico e fundamental, revelou que 72% dos jovens baianos não conhecem nenhuma instituição de pesquisa na Bahia; 87.7% não conhecem nenhum pesquisador no estado; e apenas 25.7% citaram um pesquisador internacional, como Einstein, Newton e Darwin.
Eduardo comparou dados dos Estados Unidos com o Brasil para demonstrar a discrepância dos investimentos do governo brasileiro na área de C&T: “Nos EUA, em 2009 o governo lançou um programa chamado STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics) com o objetivo de educar para inovar. Lá existe a necessidade de 8.6 milhões de trabalhadores nessas áreas. No Brasil, a perspectiva é que até 2020 teremos uma perda de 115 bilhões de reais por falta de profissionais de Tecnologia da Informação (TI). Esses números são alarmantes”. Segundo o diretor, em 2014, as agências federais americanas, investiram 75.6 bilhões de dólares na área de TI, enquanto no Brasil, o orçamento do MCTI em 2015 foi reduzido, ficando menor do que 2 bilhões de dólares: “Isso reflete bem todo esse momento que o Brasil se encontra na esfera de C&T”.
Sobre o apoio da Fapesb para a C&T nas escolas, Eduardo citou alguns editais como o de Popularização da Ciência e o de apoio a projetos na Semana Nacional de C&T. Ele também falou da visita recente que recebeu dos alunos medalhistas da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas: “Estamos discutindo a formatação de um programa para aproximar e reter esses talentos o mais cedo possível na universidade, nas áreas de matemática, física, química e biologia, que são as que consideramos estratégicas para o nosso estado”.
Por fim, Eduardo falou sobre o contingenciamento de verbas. “A fundação tem sofrido um contingenciamento sério que está tendo um impacto na esfera da Ciência, Tecnologia e Inovação em nosso estado. Cortes desse tipo serão um retrocesso. Então esse diálogo é extremamente importante para discutirmos não só a visão dos pesquisadores como também dos órgãos gestores, sobre como se encontra a situação do nosso país, do nosso estado, e os impactos que isso pode trazer”.
Por: Lorena Bertino – Ascom/Fapesb